1.5.17

Em lugares desabrigados

Dorothea Lange

Cravo as unhas na carne da indiferença.
Escrevo sangue
com o lápis gasto pela culpa acorrentada
à cegueira que desfoca os olhares
na bastardia dos abraços.
Digo fome
com os dentes colados à secura dos trigais
e às sobras rapadas nas latas do lixo.
Leio dor. Dolorosamente.
Em lugares desabrigados,
em portas franqueadas aos rasgões
da vida rondada pela morte.

Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015

64 comentários:

chica disse...

Fortes e profundos versos e essa realidade existe tanto ainda! Bela imagem também! bjs, chica

AvoGi disse...

Há claridades que cegam.

Humberto Maranduva disse...

Querida Graça
Um belo poema, este!
A indiferença cega provocada pela repetição exaustiva das imagens do quotidiano, mediatizadas pelos mass media, está a deixar o Mundo dos sentimentos cada vez mais petrificado.
É importante a sua chamada de atenção, enriquecida pela tonalidade emocionalmente artística dos seus versos.
Beijos

Cidália Ferreira disse...

Apesar de triste é um excelente poema!

Beijos e uma excelente semana.

tulipa disse...


Olá Graça

Mais um belíssimo poema
mostrando a realidade

Estive ausente em Abril
regresso agora cheia de novidades para mostrar.

MUITO OBRIGADA pelas visitas e comentários que tem deixado nos meus blogues.

A natureza é feita de recomeços
e também a vida o deve ser.
Quando algo termina
é sempre uma oportunidade para (re)começar algo diferente.
faço disto o meu lema de vida

e, para mim um recomeço é o dia do meu ANIVERSÁRIO
que aconteceu a 19 de abril, muito recentemente
e decidi RECOMEÇAR um novo ano
viajando e estando em HONG KONG

Beijinhos.

manuela barroso disse...

A inclemência do poeta no grito sufocado de tanta indiferença !
Belo , belo , Graça !
Beijinhos 😘

lis disse...

E como são extensos os 'lugares desabrigados',Graça
_ e como dói lendo a 'dor' que sentimos todos.
Parabéns por expressar e nos acolher no seu abraço solidário.
Que a semana seja boa e que possamos ver flores e mais 'abrigo.

regina disse...

Imagem e poema belíssimos
Bjs
Regina Gouveia

Tais Luso de Carvalho disse...

Maravilhoso, mostra a pobreza, o submundo das desigualdades com uma linguagem triste.
Nada há mais a esconder, para que alguns desfrutem do máximo, precisa existir uma população que se arrasta, que nem dentro do mínimo se aguenta. Foto real!
Beijo, querida amiga.

Licínia Quitério disse...

Tenho saudades tuas, Graça. O teu blog é sempre um lugar de amarrar emoções. Beijos.

Daniel Costa disse...

Graça Pires
Verdade que é a cegueira a desfocar o olhar. Muito profundo o poema a merecer muita meditação.
Reportando-me, ouvi mesmo o choro em ventre de mãe.
Bjs

Nadine Granad disse...

Oi, Graça!

Adoro ler suas seleções, mas sentia falta dos seus ;-)

Lindo, tocante... As contradições da vida que acabam andando de mãos dadas em um complexo paradoxo!...

Boa semana!
Beijos =)

Marta Vinhais disse...

Desalento... um olhar sobre a dor que se lê, que se sente naqueles que o Mundo se esquece e deixa sós....
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Célia disse...

Versos que destacam a realidade de muitos e a indiferença de todos...
Falta grave de compaixão / humanidade / solidariedade...
Abraço.

Luis Eme disse...

Muita indiferença mesmo...

e dor na poesia.

abraço Graça

Majo Dutra disse...

Cru, forte e veemente como requer essa indiferença monstruosa.
Muito bom, Amiga.
Beijinho
~~~~

LuísM Castanheira disse...

Sangue, Fome e Dor...
O Poema estampado na Imagem.
E o grito... tão intenso é o grito
entre silêncios e caos.
Muito belo, intenso e pertubadas, minha Amiga Graça.
Uma boa e saudável semana, com um fraterno beijo, no Maio que (re)começa.

Maria Rodrigues disse...

Palavras fortes, intensas e sentidas, que retratam uma dura realidade de tantos desprotegidos da sorte.
Um poema brilhante!!!
Beijinhos
Maria

As Mulheres 4estacoes disse...

Tanto a imagem quanto o poema são fortes e traduzem uma triste realidade de fome, dor e desalento.

Victor Barão disse...

Estou muito longe de ser poeta e regra geral tenho uma prosa, auto reconhecidamente, sofrível!

Dai que para não complicar muito, ao Poético conjunto fotográfico de Dorothea Lange e escrito de Graça Pires limito-me, positivamente, a dizer:

Brutal!

Chic' Ana disse...

Um lindo poema, profundo! =)
Beijinhos

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo poema da triste realidade que é a pobreza.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Laura Ferreira disse...

belíssimo!

boa semana, Graça

Pedro Luso de Carvalho disse...

Gostei muito deste teu poema, Em lugares desabrigados, com a crítica social que contem. Sempre espero pelos teus poemas, admirador que sou da poesia moderna.
Um beijo, Graça.
Pedro

Agostinho disse...

A velocidade que os sistemas de informação alcançaram presentemente é impeditiva do pensamento. A percepção dos sentimentos fica-se pelo átrio do edifício sem atingir o âmago, a alma.
Fatalmente a edição da imagem obedece a critérios oportunisticos que exibidos de forma continuada banaliza a mensagem da imagem. Os estados de excepção​ da pobreza, do sofrimento, da miséria material e humana são condicionados ao exercício estético do choque para que venda.
A poesia tem um tempo diferente; deixa espaço para a leitura calma, dá oportunidade ao aflorar dos sentimentos humanos.
É o que Graça Pires faz com mestria.
Da minha parte tenho de agradecer esta oportunidade.
Bj.

Sinval Santos da Silveira disse...

Amiga, Graça Pires !
Lamentável realidade que habita o mundo.
Aqui, aí, acolá...
Texto exuberante !
Parabéns, com o meu carinho, aqui do
Brasil.
Sinval.

Silenciosamente ouvindo... disse...


Li, olhei e fiquei triste. Mas é uma realidade
que existe, e muito e em diversos países.

Ainda ontem alguém me chamava a atenção para
um barco velho ancorado num cais e tapado com
plástico, meio rasgado. Tudo levava a crer
que naquele barco vivia um homem, que estava perto
dele com 4 cães, que não o largavam.

Há assim vidas muito tristes.

Este mundo está repeleto de coisas boas, más e
muito más.

Bjs. amiga

Irene Alves

Lucinalva disse...

Olá Graça
Palavras fortes que falam da pobreza. Bjs querida.

Fá menor disse...

Ai tanto! Onde nem sequer sonhamos que exista!
Tristes realidades.

Boa semana.
Beijinhos

Simone Felic disse...

Olá
E assim caminhamos para uma vida reservados e
sem ver o sofrimento alheio.
Bjs

http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

Anónimo disse...

Oiee amore .... tenha um lindo mês de maio .... que Deus realize todos os seus projetos .... bjinhos com carinho ...

Deus te abençõe

Cadinho RoCo disse...

A vida sempre nos desafiando enquanto tratamos de desafiá-la também, até para que a possamos ter devidamente afinada, ainda que temporariamente. Te esperando na www.hellowebradio.com ... você.Vem!
Cadinho RoCo

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Lindíssimo poema! É uma reflexão sem exacerbação - fria como a frieza de certos corações empedernidos pelo vácuo da crença. A postagem da figura complementa os versos bem postos. Parabéns! Grande abraço. Laerte.

Lídia Borges disse...


A tua Poesia Graça, arrasta-nos!...

Lembraste-te disto:

"É uma escrita de tonalidades tendencialmente disfóricas, uma teia poética que não se distancia do conflito existencial do ser humano, confrontado com a desintegração dos valores tradicionais, a crescente onda de desumanidade, as perturbações e incertezas do tempo em que vivemos."

Disse-o na "Unicepe", no Porto, a propósito a tua poética.

Um beijo

Lídia

CÉU disse...

Olá, estimada Graça!

É verdade! Há sítios, zonas tão sem abrigo! Crave, crave as unhas, os dedos, a força da sua alma para mudar ou tentar mudar a situação trágica e desumana em k tantos vivem. As palavras, as suas, são uma poderosíssima "arma".

Que a Humanidade possa, um dia, dizer: Fartura e Amor.

A imagem, arrepia, mas ela existe, infelizmente.

Beijos e feliz semana.

Aleatoriamente disse...

Observo e compreendo
cada olhar da fome que dói também na alma.
A bondade está em cada pequeno fluir de sentimentos.
Mas sem uma passada inicial, não haverá vencedores.

Lindo seu texto e imagem minha amiga.
amo te ler.
Beijinho


Sara com Cafe disse...

extremamente profundo!!!

abraco.

Manuel Veiga disse...

Graça, minha amiga

que não venham as consciências instaladas
afirmar que a Poesia não toma partido!...

o teu poema é prova provada
de que a Poesia pode ser grito de denúncia
sem com isso beliscar o mínimo que seja
a sua beleza e qualidade.

Beijo

Odete Ferreira disse...

Graça: posso só dizer que li, reli e emudeci?
E que, de certeza, voltarei a (re)ler?
BJO, amiga!!!

Blog Love In Red disse...

Lindo, tão forte e tão compreensível.
Gostei!
http://blogloveinred.blogspot.com.br ♡

Smareis disse...

Boa noite Graça!
Um poema profundo, muito bem construído, que destacam uma indiferença dolorida.
A indiferença e o abandono causam danos terríveis a pessoa.
A imagem é muito bonita, casou muito bem com o poema.
Uma ótima semana!
Um ótimo mês
Um abraço, e um sorriso!
Blog da Smareis

Existe Sempre Um Lugar disse...

Bom dia, poema que reflecte a cegueira que desfoca os olhares daqueles quem só vivem o mundo deles e para eles.
Continuação de boa semana,
AG

São disse...

Poema reflectindo bem quanta cegueira e indiferença pululam neste planeta...

Abraço grande e bom resto de semana

ManuelFL disse...

Um poema contra a indiferença que cobre a condição dos deserdados da terra.
Magnífica foto de Dorothea Lange.
Beijo, Graça.

Suzete Brainer disse...

Graça,

Este seu poema magistral é um belo grito da melhor arte na
intervenção nesta realidade injusta das desigualdades sociais.

Permita-me escrever com o seu poema sobre esta
realidade desumana:
"Escrevo sangue
Digo Fome
Leio dor"

Grata pela leitura deste seu poema magistral, humano
e tão tocante nestas feridas das dores do mundo.
Beijos.

Teresa Almeida disse...

À beira-mar,
onde crianças brincam, sinto a força e a revolta das tuas palavras.E sonho com o mundo que, nos olhos delas, brilha.
Bravo, amiga!
Beijo.

teresa p. disse...

Sangue, fome, dor e morte, dramas humanos que não podemos ignorar. Este poema é como um grito de alerta contra a indiferença perante o sofrimento dos desfavorecidos deste mundo. É um poema magnífico, com uma fotografia maravilhosa e muito adequada.
Beijo.

Lourdinha Vilela disse...

Tão forte, verdadeiro e profundo!. Flores que murcham pelas intempéries da vida e ninguém as quer colher.
Sentimos"pena" mas ela é só um brado silencioso da nossa própria consciência. Apontando que nada podemos fazer. Até quando...
Muito triste Vera, porém muito linda a forma como você lança seu olhar poético sobre a vida, a sociedade, sinalizando o cotidiano das ruas e nos fazendo refletir muito.

Aline Goulart disse...

Um poema forte que trata de um assunto que dói, que machuca. Simplesmente magnifico esse poema-manifesto. A fotografia em plena sintonia com cada palavra. Admiro-te! Beijinhos estalados...

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Um poema magnifico que grita de forma muito sentida uma triste realidade que parece não ter fim e à qual não podemos ficar indiferentes.
Um beijinho, minha Amiga.
Ailime

Marta Moura disse...

Que foto fabulosa!

Lourdinha Vilela disse...

Querida Graça, retorno aqui para pedir mil desculpas. Ao fazer meu comentário me referi a você como Vera, eu voltava de um comentário no face de outra também amiga querida a Vera e acabei cometendo esse erro. Peço que me perdoe. Um Abraço.

Jaime Portela disse...

E quanto mais riqueza se crie, mais profunda vai ser a pobreza. Seja ela material, social, cultural, etc., etc. A humanidade, de um modo geral, e o capital (principalmente) não olha a meios para atingir os seus fins.
Um poema soberbo, minha amiga, gostei imenso.
Bom fim de semana, Graça.
Beijo.

Anónimo disse...

A pobreza e a fome que abundam e conviem ao nosso lado são nossas feridas abertas da indiferença coletiva. São dor e mágua. Deverias olhar mais para esse nosso lado do caminho e abraçar numa tentativa de reduzir a dor.
Excelente foto e poema.

Mirtes Stolze. disse...

Boa tarde querida Graça
Um poema profundo,um grito de clemência,um pedido de igualdade. É tão triste essa dura realidade. Muitos fecham os olhos e consegue ser indiferente,graças a Deus ainda existem exceções que fazem o que podem para diminuir um pouco essa situação. Muitos apontam o dedo para governo etc e dizen que não é problema nosso. Mas eu não penso assim. Realmente deveria ser o governo a tomar providências. Mas já que isso não ocorre que todos deixe de ser indiferente ao sofrimentos alheios e faça o que estiverem a seu alcance. Mas sem precisar que o mundo tome consciência. Mas por amor. É por amor Deus nós recompensa. Felizes dias amiga. Grande abraço.

Anónimo disse...

Oie amore .... obrigado pelo seu carinho em meu cantinho .... tenha um lindo fim de semana ...
Deus te abençõe em td que fizer.

Ana Freire disse...

E nos dias que correm o mundo é mesmo pródigo em lugares desabrigados... para o corpo de alguns mais carenciados... e para a alma de tantos... até mesmo dos mais afortunados...
Magnífica inspiração, Graça!... Que é também um retrato fiel deste nosso mundo novo...
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana

Graça Alves disse...

Um poema de clara intervenção social.
Belíssimo!
beijinho

baili disse...

Lust of power within men who occupy strong position in this world is causing misery and pain to innocent human who have nothing to do with this race of lust yet are being victims of their cruel plans .
this photo and your words are touching my soul to cry

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Graçinha

este poema é um grito poético
forte
profundo
cru e
real isso é que é triste, neste mundo actual
bom momento de poesia!
beijinhos

:)

Olinda Melo disse...


Misérias que nem sempre queremos ver e que muitas
vezes habitam mesmo ao nosso lado.

Obrigada, Graça.

Bj

Olinda

Odete Ferreira disse...

E voltei a ler... Destas tormentas, todos sentimos e entristecemos. Desta forma de dizer há poucos...

solfirmino disse...

Realmente às vezes passamos e fingimos não ver, viramos o rosto, nos tornamos duros às realidades da vida. Não há poesia nisso.

Jaime A. disse...

Um poema muito visual, muito "gráfico ", com ima mensagem muito forte. Maravilhoso!

Um abraço.