24.2.15

És um navegante solitário

                                             Edward Hopper                                

                                               Para o Victor Oliveira Mateus

És um navegante solitário.
Cartografas com precisão
todos os vórtices.
E deixas que uma luz coada
entre no convés, pela escotilha,
para esqueceres como são brutais
e longas as cordas da noite
quando recolhes os despojos
dos naufrágios mais secretos.

Graça Pires
De Espaço livre com barcos, 2014

17.2.15

Em seara alheia



Depois poderás dizer que a esperança é um rio
que atravessa os pés de quem anda
descalço sobre as pedras

Gisela Gracias Ramos Rosa
In: As palavras mais simples. Macedo de Cavaleiros, 2014, p. 94

8.2.15

Tão longe e tão próximo do teu nome

Amanda Cass


                     Para a minha irmã Teresa

As ondas do mar salgado
andam correndo à vontade.
Levam barcas de desejo,
trazem barcas de saudade.
Cantiga de roda.
Tempo de criança: tão longe
e tão próximo do teu nome.
Tempo que já não volta.
Que tiveste de inventar para ser teu.
Como quando o odor dos limos
benzia tuas mãos até à inocência
dos gestos mais discretos
e escondias, debaixo do travesseiro,
o teu olhar verde-mágoa.

Graça Pires
De Espaço livre com barcos, 2014

1.2.15

Um mar a inundar-te o olhar

Katia Chausheva

Para a Marta López Vilar

No ventre da tua mãe começaste a amar as águas.
E soubeste como se abrem os diques da pele
para jorrarem em litorais onde explodem
as marés assediadas pela lua.
Depois quiseste ser cais e barco,
âncora e vela, abrigo e naufrágio.
Tens agora um mar aberto a inundar-te o olhar.
Para sempre.

Graça Pires
De Espaço livre com barcos, 2014