1.7.12

Como se esperasse ser salva

Katia Chausheva

É sobretudo ao anoitecer que ouço
exaustivamente o fado em vozes solitárias.
Deixo que um xaile negro me cubra os ombros
porque tenho a mente propícia aos perigos nocturnos
que me dobram os joelhos como se esperasse ser salva.
No estuque das paredes enviesadas do quarto
procuro uma tira de luz e não sei se nomeio o deserto
ou a ilha de basalto onde as aves ensurdecem
com a absoluta quietude das pedras.
Trago serpentes marinhas enroscadas no corpo
e o açoite do medo a ferir a tremura das mãos
que escondem anéis de ágata na perícia dos dedos.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011